quarta-feira, 21 de setembro de 2011

a lagosta saltou do prato em seus sapatinhos de verniz, entoou o sol menor, olhou-me e disse, é isto que se diz!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

observo cuidadosamente a superficie do ser
pétala, teia ou casca rugosa sem intenção ou ficção imperiosa
como distantes estão de mim sendo eu parte de vós
nesta demanda necessária à gente curiosa

tenho um bule preto, vidrado como um céu de uma noite de verão. Encontrado entre coisas mil, sem sentido ou destino, o bule preto japonês esperou por mim numa dessas feiras dos dias quando o dia da semana diz em seu nome não haver já feira. Acompanha-me nas minhas leituras, no silêncio dos meus pensamentos, nas tardes de um outono que se anuncia na luz que escorre pálida, pelos muros do final da tarde. Perfumado, exala lugares de todos estes mundos sonhados em postais ilustrados, partilhando na intimidade do calor o segredo das folhas que dentro de si vê abrir.
A primeira vez que o usei, negando-me lavar do seu interior a sua história, descobri singular surpresa. Um seixo de praia tão negro quanto o bule, rolou ao sabor da água fervente vertida.pude vê-lo sob a superficie opalina da água, lá no fundo. Nesse fundo do bule, no interior onde abrem as flores, estão duas linhas cruzadas. essas que contam histórias a quem sabe ler os seixos, essas que se desenham na palma das nossas mãos quando o tempo nos revela o destino.Ou essas que desenham em marca o tempo das nossas expressões: depois do esgar da morte, todos os rostos regressam à sua expressão - aquela que corresponde à topografia das rugas. Nunca tirei o seixo do fundo bule.
Julgo que as linhas brancas são as suas nervuras, desenhadas em cruzado.veios, rasgos, ramos, veias, rios, desenho, traços riscados, cicatriz. Nunca o saberei. Sei somente que cada vez que observo o fundo nocturno do meu bule, vejo um céu sem fim, chumbado a azul e cortado por nuvens: vejo o singular o instante dos encontros, quando numa outra profundidade se manifesta a nossa.

sábado, 10 de setembro de 2011

noites pelas manhãs dias sem fim fiadas de estrelas
o meu corpo sem mim
onde encontrar o silêncio doçura rio navegável
nessas ideias
das noites sem sono perguntas respostas sem lugar confortavel?

no deslumbre da ideia

recortadas as silhuetas
das árvores

o azul
pantone

feérica a noite testemunha
a cumplicidade das Ideias.

quem disse que não eram importantes?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Como nefelibata que é percorre dois mundos: por cima e por baixo das nuvens.
Certo é que sua perspectiva impede-o de partilhar, desinteressada e levianamente a realidade com os demais, habituados à perspectiva terrena, desapaixonada das alturas, limitada sempre num algures por um obstaculo erguido. Nas cordenadas terrenas, a lógica é ritmada pela cadência dupla do passo, da norma aprendida, do dois, um ou outro e algures algo que dificulta a progressão. Foi por isso, vendo sobre as nuvens, na partilha do ceu sem fim, que seu coração conquistou uma outra cordenada, singular. Aquela que partilham todos os que se permitem nela incorrer, ou aos quais a Natureza agraciou com a arte do voo: a da leveza dos sonhos.

domingo, 4 de setembro de 2011




das imagens que organizam, reunindo a dispersão na união
encontros, lugares

quadros sonhados realizados, actualizados
tempo,lugares

de um fluxo outro,imagens guardadas, agora dadas, largadas
devolvendo-nos a nós mesmos, ao centro. alegria.

sábado, 3 de setembro de 2011

na manhã das nuvens altas,
depois da tempestade
novas folhagens nascem. mesmo nos arbustos já secos.

doí-me a alma no corpo todo.


Praia sonhada bem amada
Do areal sem fim
Cresce ondas, no mar mansinho
Nuvens, dunas, sombras
Dentro e fora de mim.