Lânguidos e lentos foram os dias que prolongaram o verão por um tempo surdo. Os corpos, já cansados de lutar contra a secura, recordavam os tempo em que a chuva cobriu de verde os caminhos e vestiu de frondoso lustre o capim. Dos dias em que mordiamos bagos de café, torrado. E depois de tudo, quando a luz da manhã cruzou o pó suspenso, regressámos aos tempos em que atravessámos um continente, recordámos os encontros perdidos, e a dor de ser somente por nada mais sobrar que o hábito de ser. Em silêncio, lembrei os corpos que me cruzaram sem me sentirem. E não consegui deixar de pensar no nosso reflexo, pelas montras de tantas cidades e nas janelas dos comboios - de tão parecidos que fomos, ao ponto de nos termos julgado como o mesmo. E perdi-me nas horas que entraram pela tarde, recordando, como me havia perdido em tempos, pelos teus braços, desenhados com mapas celestes em marcas douradas. Prolongavam os meus, num espanto quase insuportável, gerando o céu onde explodiu o meu peito - como nunca dantes, nas ilhas das noites quentes. Descanso agora. Já não tenho corpo nem sinto o sabor do café.
Lembro-me somente que te recordavas, na primeira noite em que te senti, que havíamos estado juntos, numa vida antes de termos nascido.
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