quinta-feira, 18 de junho de 2009

trans-onirico acidental

A cidade voga sob os nossos pés, relectida numa imensa superficie quente. Entre o fumo dos cigarros que se desenha em curvas sinuosas, todas as palavras confirmam os antigos encontros. De dia, jogo o jogo desta enorme ilusão consensual, de noite, encontro-nos a todos, nos bastidores das nossas vidas já vividas, do tempo que nunca aconteceu, de tudo que já teve lugar na fiada das ocorrencias. Está disposto a pagar o bilhete, pergunta o pequeno homem de dentes luzidios e expressão atormentada. Sim, claro, não há escolha, porque não sou eu quem escolhe, foi um acidente e a causa ainda ninguem a explicou, um grande acidente - acrescento. Nos bastidores somos quem realmente somos, sem o desejo de sermos outros, de sermos essas imagens de nos mesmos.
Quem deseja pagar o bilhete, entre, quem não deseja não se preocupe - lá estará na mesma, mas sem o gozo da viagem. A transacção é simples: a tua vida normal em troca do encontro e da ausencia do tempo. O trans-onirico acidental parte todas as noites, pontual, sem atrasos. Das suas janelas salto para a minha outra vida, para a tua, para essas cidades onde já estivemos e para os quartos onde já dormimos, para um outro tempo sem sequencia, onde não existem escolhas mas evidencias. Hoje encontrei-te num enorme quarto, com uma enorme janela. vestias roupas do corpo de outra pessoa e senti no meu colo o calor de um gato de pelo dourado. Na suspensão destes momentos, olho a enorme janela e sinto a tua companhia. Nos feixes de luz que atravessam o pó suspenso compreendo o que sou contigo, sabendo que somente o poderei sentir na viagem do trans-onirico acidental.

c

nunca me ofereças nada
senão
a tua companhia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Na corrida dos dias, uns com os outros, certamente que os da juventude ganharam, curtos, velozes e elásticos foram enterrar os velhos e à memória cantaram como se fosse sua.

sábado, 13 de junho de 2009

Sto António de Lisboa

e

na manhã quente depois dos assados vem sempre

palavra e coisa para aqui e lembras-te do que disseste para ali, do que pensaste e sentiste, do que desejas-te e fizeste. e da ultima vez e ontem e daquela vez e sempre, afinal foi sempre assim, sempre soube e ai pois isto e aquilo, e, e podia ser tudo simples, ser culpado é o mais fácil, afinal depois de todas as parvoices que já dissemos, o que resta para acreditar?




O sr. Nilismo sentou-se à mesa com uma sardinha, pensaram juntos: vamos criticar sem fundamento o manjerico ou o carapau. Cada um constroi o universo à medida das suas limitações.



os poemas de amor são os mais mentirosos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Sobre uma linha começou a escrever desenrolando o novelo até ao fim.