sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Sonho-me. Vejo o meu corpo desfocado. Sonho-me com imagens que se encaixam com peças de um grande jogo, e entre elas as imagens dos espelhos - nestes estão reflectidas formas de afectos - sentimentos em expressão tonal - uma sonoridade familiar. Tenho um corpo outro, moldado por uma configuração que nunca foi a minha - e circulo, como uma briza, entre o que é matéria de reflexo. Corpos de gente indefinida, dos quais vejo apenas a silhueta recortanta entre a vibração tonal emanada pelos espelhos. Temos os pés emersos em água - ou será mercúrio? Sinto toda a planta dos meus pés. Olho as minhas mãos. E tudo se condensa agora no meu peito - uma dor antiga, cuja origem não me recordo, cuja presença sabe mais de mim do que eu próprio. Participa, de algum modo indefinido, da delicadeza com a qual o vento toca, nos dias do estio, o teu pescoço. Tens um pescoço dourado. Vejo as peças do grande jogo - encaixadas como espelhos - entre estas, o veludo dourado do teu pescoço, um vibrato azul, muito ténue, da cadência suave da tua respiração.

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