sexta-feira, 29 de junho de 2007

Um raio único

As manhãs já não foram com se esperava que fossem. Ali, passou a saber que os dias tinham a duração das horas e que as horas nunca demoravam mais do que um ano. Ou dois. Aí, a expectativa anulou-se, como se espera que se anulem os desejos.E as esperas longas. Afinal, não poderia esperar por ninguém, nem por nada. Porque todos se incluiam, em dimensões variáveis, num corpo único.
Numa dessas manhãs, em que delas já se sabia não se poder desejar a continuidade de um dia, o Sr. A.R. pensou ter encontrado a particularidade do sistema. E pensou poder congregar - nesse pensamento - todos os principios alquimicos onde a acção implicada em VITRIOL organiza em medida de ordem e potencialidade, escapando à margem entrópica de tudo o que já havia analizado, a franja de todas as expectativas.
Dançam dois raios dourados das manhãs, pelas paredes demasiados brancas. Pelo caminho, cruzam-se com a poeira semi-suspensa. A poeira dos dias e do que ficou dos encontros. Afinal, nada disso é assim tão importante. Sr. A.R. tentava convencer-se disso.
Somos em espaço negativo ou somos em espaço positivo? Ou será que somos o espaço que de delimita pelos encontros. Espaços que combinam mundos, que geram galaxias, que instauram campanhas arqueológicas nos passados e fragmentam os cristais do hábito. Confirmava-se, na observação atenta da poeira, o que no peito de Sr. A.R. doia em vazio: os fragmentos dos espaços gerados dos momentos, presentifica-se em poeira suspensa, delimitada a ouro pela luz.
A ausencia em tudo se confirma. A distancia revela o banal, o brilho das coisas participa de Deus. Como o brilho do teu olhar, acrescentou, sussurrou, repetiu num quase silencio. É aí que se condensam todos os fogos, onde não somos nem um nem dois, nem todos nem passado, nem eu nem tu. Um corpo único - o fogo que queima o tempo na sintese dos dias nas horas e nas horas que sempre ultrapassaram um ano.
Um raio único cruza a poeira dos dias. No meu peito repousa um guerreiro.

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