quinta-feira, 28 de junho de 2007

Botânica

Acordo e sinto o teu perfil, desenhado a luz, contra o papel adamascado deste quarto antigo. Tão antigo. Sinto-te na antiguidade ancestral da tua presença no meu corpo. Disseram-me que as paredes deste quarto contam estórias de feitiçaria e magia cigana, e que sabem das mágoas e dos sonhos de todos os que aqui adormecem. De todos os que dão a mão, perdendo-se, na companhia de Orfeu. Disseram-me também, que pelos ramos do padrão do papel de parede, elas os agarram, devendo-se a esse fenómeno, a distinta variedade de flores que compõe esta parede. Diz-se, e eu confirmei, que os sonhos aqui capturados são pelas flores guardados, enformando as pétalas, caules e folhas impressas nessa superficie acetinada, brilhante.
Sinto as minhas costas estenderem-se contra o colchão mole. Também são costas antigas. Na ausência do teu perfil, tento localizar no papel de parede os teus sonhos, e os sonhos que aqui sonhámos juntos.

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